História de uma mãe de coração aquecido

História de uma mãe de coração aquecido



Duas datas do mês de maio – o Dia das Mães, no segundo domingo, e a experiência do “coração aquecido”, de John Wesley, no dia 24 – nos trazem à memória o nome de Susana Wesley. Essa mulher foi mais do que mãe do fundador do metodismo: como você verá neste artigo do saudoso professor e pastor Duncan Reily, Susana influenciou importantes decisões tomadas por Wesley. Seu papel foi fundamental para o estabelecimento do metodismo no século 18. Assim como é fundamental o papel das mães metodistas do século XXI. Parabéns a todas!

Susana Wesley, metodista

Os quase 73 anos e meio da vida de Susana Annesley Wesley não podem ser contados no pequeno espaço do presente artigo. Portanto vamos limitar-nos ao período entre Maio de 1738 e Julho de 1742, os primeiros anos do Metodismo no sentido mais próprio do termo. Neste curto tempo, Susana tornou-se numa metodista atuante e figura influente nesse movimento liderado pelos seus filhos João e Carlos. Destacaremos cinco momentos ocorridos nos anos finais dessa mulher extraordinária.

O primeiro desses momentos ocorreu pouco depois daquela data tão crucial para o Metodismo, a saber, 24 de Maio de 1738. Tudo indica que ele preparou a narrativa da sua conversão – na realidade, uma pequena autobiografia espiritual que ele incluiria no seu Diário Público – exatamente para explicar a sua mãe mais plenamente o sentido do evento. João levou-lhe o relato. Apesar de Susana não ter vivido, até àquele momento, uma experiência semelhante, ela recebeu o relato com aprovação.

Depois de muito estudo desse episódio, estou convencido de que temos nesse relato da “Experiência de Aldersgate” a mais completa descrição escrita por Wesley. Precisamente por causa do seu desejo de compartilhar com sua mãe o que Deus havia realizado na vida dele.

O segundo momento é aquele em que Susana teve uma experiência marcante de fé pessoal, diferente em detalhes daquelas dos seus filhos João e Carlos, mas com sentido semelhante. Como boa e convicta anglicana, ela viveu por longos anos uma vida marcada por leitura da Escritura, oração e meditação profundas e disciplinadas, participação ativa de culto e sacramento. Ela nem sonhava com uma experiência em que receberia de Deus a certeza do perdão e salvação. Mas, para surpresa dela, numa data que parece nunca ter revelado, Susana teve uma experiência de fé viva e pessoal, ao receber a Santa Ceia das mãos do seu genro Wesley Hall. Ela descreveu a experiência em termos que lembram aquela dos discípulos de Emaús, quando Cristo se revelou “no partir do pão”.

O terceiro momento que queremos destacar é a participação dela na adoção pelos metodistas da pregação leiga, fenômeno quase desconhecido entre os anglicanos do tempo. No início de Março (1739), João Wesley, muito hesitante, seguiu o exemplo de Jorge Whitefield e começou a pregar ao ar livre, o que resultou em muitas conversões em Bristol, Kingswood e Londres. Mas a expansão geográfica era mínima, porque havia apenas dois pregadores, os próprios irmãos Wesley. Isso só mudaria quando João Wesley levasse para Londres o jovem convertido Thomas Maxfield para ajudar na obra. Maxfield empolgou-se no trabalho e chegou a pregar, coisa que o clérigo João Wesley não admitia. Informado da irregularidade, Wesley voltou a Londres às pressas para proibir a inovação. Susana, porém, já havia assistido à pregação do jovem e reconhecera nela a mão de Deus. Foi ela que convenceu Wesley a ouvir a pregação antes de impedi-la. Dito e feito! Depois de ouvir a pregação de Maxfield, Wesley concluiu: “É de Deus!” Foi o começo da prática da pregação leiga, o principal elemento na expansão da obra metodista daquela época.

O quarto momento é a publicação anônima de um trabalho teológico com o título “Alguns Reparos sobre uma Carta do Rev. Whitefield ao Rev. Wesley”. Na carta examinada, Whitefield havia atacado com veemência o sermão de João Wesley sobre a Livre Graça. Na obra, Susana defende a postura teológica do seu filho João e argumenta fortemente contra a doutrina calvinista da predestinação, mostrando um respeitável conhecimento da literatura relevante da época. Uma leitura cuidadosa da publicação revela Susana como uma excelente teóloga e polemista, faceta da vida dela pouco conhecida.

O quinto e último momento é muito solene, a saber, a morte de Susana Wesley e o seu sepultamento, respectivamente em 30 de Julho e 1 de Agosto de 1742. Susana Wesley não apenas morreu firme na fé como também deu testemunho de uma fé triunfante. Nos últimos momentos da sua vida, o seu filho João e a maioria das suas filhas estavam com ela. Pouco antes de falecer, ela pediu: “Filhos, assim que eu me libertar deste corpo, cantem um salmo de louvor a Deus”. Eles atenderam ao último pedido da sua mãe. O seu filho João dirigiu o serviço fúnebre. Ele registrou no seu Diário Público que estava presente uma multidão numerosa demais para contar.

Anos mais tarde, Wesley construiria, no outro lado da rua, a sua nova sede em Londres, a Capela da City Road, popularmente conhecida como a Capela Wesley. Assim, na sua morte e enterro, a metodista Susana tornou-se parte daquela “linha de esplendor sem fim”, daqueles que, mesmo “depois de mortos ainda falam” (Heb. 11: 4).

Pelo Rev. Duncan Alexander Reily. Texto adaptado (reduzido) do original publicado na revista Fé e Nexo, setembro de 2002. Reproduzido na revista “Portugal Evangélico”, publicação das Igrejas Metodista e Presbiteriana, Junho/Agosto de 2003

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