Jesus educava...


Intriguei-me com um texto que li outro dia do Pedro Demo e que me levou a refletir seriamente sobre algumas coisas.
Algo muito sério que tenho me deparado nos textos filosóficos e teológicos é a grande preocupação em utilizar-se os termos corretos para o que realmente se quer dizer. Por que "realmente o que se quer dizer"? Em cada palavra, se pesquisada sua origem etimológica e sua origem "política", enxergaremos claramente as entrelinhas. Cada palavra, cada termo, é carregado de pensamentos ideológicos, isso todos nós sabemos, mas então o que me provocou? 
Lendo "O Evangelho de Lucas: O Êxodo do Homem Livre" de Josep Rius-Camps, percebi, no discurso deste autor, uma preocupação latente com as ideologias que circundam o ser humano, a sociedade. Nota-se, da Capo ao fine no evangelho de Lucas, um cuidado extremo em utilizar termos corretos para não confundir a ideologia transmitida em determinado trecho. Um exemplo: Lucas 8:22-26  evita dizer que Jesus atravessou o MAR, como escrito por Marcos em 4:39, substituindo por LAGO para não dar a entender que Jesus realizou algum tipo de êxodo ao paganismo, pois MAR indica êxodo, ou mesmo, saída. Outro exemplo: para Camps, todas as vezes que Jesus repreende os discípulos (que são muitas por sinal!), na verdade não repreende os discípulos propriamente ditos, mas os demônios (ideológicos) que apossaram toda uma comunidade que para ser libertada, necessita que o novo Israel (representado pelos 12 discípulos) estivesse livre de toda ideologia contrária ao plano de Deus, como o messianismo político encrustado nos discípulos e na religiosidade presente. 
Mas o que mais me fez refletir no texto de Pedro Demo, no livro "Ranços e Avanços da Nova LDB" foi a questão do EDUCAR X ENSINAR. No Aurélio, ENSINAR está como "transmitir conhecimentos; adestrar" (!) que nos indica que ENSINO é um mero adestramento, sendo assim, fica condicionado (literalmente) a repetições mecânicas e que não levam a reflexão. De tal forma, Demo analisou a LDBE 9394/96 e constatou a armadilha ideológica que ainda nos desarma e nos aliena. Pensemos nos termos: primeira etapa da educação: EDUCAÇÃO INFANTIL; segunda etapa da educação: ENSINO FUNDAMENTAL; terceira etapa: ENSINO MÉDIO; seguindo para o ENSINO SUPERIOR. Educação só na primeira etapa, o resto é ensino mesmo, sem despertar a capacidade reflexiva e crítica do indivíduo. EDUCAÇÃO no Aurélio: "processo de desenvolvimento da capacidade física, intelectual e moral do ser humano". Educação é PROCESSO, não é um fim em si mesmo! E vista de forma global: desenvolver a globalidade do ser humano, não só o cognitivo-acumulativo! O Evangelho se preocupa inclusive com isso: crescendo em estatura e sabedoria - desenvolvimento global do ser humano! 
Por isso temos que nos atentar às nossas traduções da Bíblia que nos trazem termos que não condizem com a verdade ideológica. Jesus EDUCAVA, não ensinava, pois educar implica respeitar o tempo de cada um, sabendo que o contexto social influi no seu desenvolvimento, avaliando processualmente (leia Jussara Hoffmann e Cipriano Luckesi) e mostrando situações de aprendizagem com aquilo que era tangível para as pessoas, aquilo que era concreto e vivenciado pelas pessoas de sua época, incentivando a ter experiências concretas com Deus, não ficando somente no abstrato. Jesus era sócio-construtivista-cultural-histórico-interacionista.  Jesus sempre mostrou a importância da reflexão, do pensar, da criticidade, conhecendo a verdade para nos libertar. Libertar da ignorância e da alienação, grandes inimigos dos planos de Deus. 

Pensar e Deixar Pensar.....  

Veja IJo 4:6

Pax

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