Carta de Judas

BORTOLINI, José. Como Ler a Carta de Judas: Coragem para lutar pela Fé. São Paulo: 2001. Série “Como Ler a Bíblia”.

INTRODUÇÃO – Começando a entender

Segundo BORTOLINI a Carta de Judas é um dos textos mais ignora-dos do Novo Testamento (p. 7), afirmando que tal fato pode ser justificado por ser um texto breve e com conteúdo que desperta pouco interesse ao leitor co-mum, professores de Bíblias e outros. Porém o autor, ao detalhar essa carta, nos leva a refletir sobre aqueles que se aproveitam da fé e da religião para lu-dibriar, adquirir posses e reconhecimento pessoal. Ao final dessa introdução o autor nos convida a pensar: “O que nossas comunidades têm em comum com as comunidades que receberam a carta de Judas?” (p. 20).

CORAGEM PARA LUTAR PELA FÉ

1 – APRESENTAÇÃO DO AUTOR, DESTINATÁRIOS E SAUDAÇÃO (1-2)

BORTOLINI afirma que, se o nome Judas não for um pseudônimo ou a carta ser uma dedicatória, o autor da carta pode ser identificado como “irmão” de Jesus (Marcos 6,3), porém o autor da carta deixa isso de lado e se intitula “servo” de Jesus Cristo. Para BORTOLINI o autor da carta escolheu bem o termo servo, que pode ser entendido sob três aspectos:
1 - resgatado, foi resgatado da escravidão por Jesus e tornou-se livre;
2 - servidor, tornou-se livre, mas está a serviço da comunidade;
3 – profeta, que tem como característica a denúncia.
De acordo com o autor, esses três aspectos se completam e todos, de alguma forma, se apresentam na carta.
O autor nos alerta para a insistência em torno de um único senhorio levantando uma suspeita da dimensão política da carta. Os falsos profetas de-nunciados “fazem o jogo do império romano, dominador, minando a resistência das comunidades proféticas.” (p. 23)
Apesar da carta não ter um endereço definido, de acordo com o autor, é uma carta destinada a todos, recebendo assim a classificação entre as “cató-licas” ou universais, porém Judas traça o perfil dessa comunidade chamando seus membros de “eleitos”, “amados” e “guardados”. A eleição é fruto do amor de Deus para conosco e se encontra no Antigo Testamento ligada a Abraão e ao povo escolhido, ou seja: essas pessoas são herdeiras legítimas de todas as coisas que Israel experimentou em comunhão com Deus. Esses membros da comunidade a quem Judas se remete são também amados por Deus Pai e guardados por Jesus Cristo, segundo o autor o tema “guardados” nos leva a refletir na “ação central de nossa fé, a morte e ressurreição de Jesus, cujos efeitos se prolongam na história e além da história, preservando os cristãos no julgamento final.” (p.24). Segundo BORTOLINI, essas três palavras abraçam o tempo cronológico: o passado, a eleição do povo; o presente, caracterizado pelo amor e o futuro, a preservação.
Com relação à saudação o autor afirma que esta se assemelha em parte com outras cartas do Novo Testamento, porém tem peculiaridades como o tema misericórdia. Para ele não há muita diferença entre a “misericórdia” de Judas e a “graça” das cartas de Paulo, e o trio apresentado por Judas “miseri-córdia, paz e amor” está mais perto do trio “graça, misericórdia e paz” de 1 Ti-móteo 1,2; 2 Timóteo 1,2; 2 João 3. No Antigo Testamento uma das caracterís-ticas com que Javé entrava em aliança com seu povo era a misericórdia (mise-ricórdia ou amor e fidelidade) e a vida plena para o povo da Bíblia é a paz (sha-lom) e eram essas coisas que Judas desejava em abundância para aqueles a quem escreveu a carta.

2- TEMA OU MOTIVO QUE PROVOCOU A CARTA

Os destinatários da carta são amados por Deus e também pelo autor da carta Judas e todas as relações, de acordo com BORTOLINI, “são marca-das por essa característica: as relações com Deus, as do autor com as comu-nidades e as relações das pessoas entre si.” (p. 25).
Com relação ao motivo que provocou a carta, o autor afirma que era uma das formas de catequese utilizadas na época, assim como as visitas às comunidades, porém Judas não relata visitas ou mensageiros.
A carta escrita por Judas trata de “indivíduos” infiltrados nas comuni-dades o que nos leva a entender que essa carta seria enviada a diversas co-munidades.
Judas escreveu sobre a salvação comum afim de estimular as comuni-dades a lutarem em defesa da fé, de acordo com o autor, a carta é um apelo à militância cristã para que as comunidades mantivessem a fé viva frente aos novos desafios e confrontos.

3 – RETRATO DOS FALSOS MESTRES

De acordo com o autor Judas utiliza-se de temos pesados e deprecia-tivos em sua crítica, desmascaração e condenação dos adversários, não aceita diálogo e pede às comunidades que não tenham nenhum contato com eles. Judas utiliza tanto textos do Antigo Testamento quanto de livros não canônicos para atingir seus objetivos.
Esses “indivíduos” poderiam ser, para o autor, pregadores itinerantes, muito comuns naquela época em que a pregação e a animação das comunida-des dependiam desses missionários. Acusa tais infiltrados de ímpios, ganan-ciosos, murmuradores, blasfemos, e, a mais forte acusação, de converterem a graça de Deus “em pretexto para a libertinagem e negar o senhorio de Jesus Cristo” (p.29). Inclusive o autor lembra-nos que, assim como hoje, era muito difícil discernir entre verdadeiros e falsos profetas, citando várias formas de como discerní-los. O alerta e acusação é pela consequência que trazem, pois acabam trazendo divisões dentro da comunidade. Então, para o autor, a carta acusa os falso profetas, ao mesmo tempo que os cristãos são chamados a “re-construir a unidade rompida” (p.37)

4 - EXORTAÇÃO ÀS COMUNIDADES

Judas, voltando-se às comunidades, incentiva-as à reconstrução em torno da santíssima fé através de sete recomendações:
1. construir sobre o alicerce da fé
2. orar movidos pelo Espírito Santo
3. manter-se no amor de Deus, esperando a vida eterna
4. convencer os vacilantes
5. salvar uns, arrancando-os do fogo
6. ter compaixão de outros, com temor
7. detestar até a roupa contaminada dos ímpios

5 – DOXOLOGIA

Esta carta encerra de forma diferenciada da maioria das cartas neotes-tamentárias, pois não há informações e notícias sobre o autor, nem de outras pessoas, e também não há saudação final. Ocorre uma Doxologia, ou seja, um hino de louvor envolvendo Deus e Jesus Cristo e as comunidades à que a carta se endereçava.

Comentários

Postagens mais visitadas