Criação ou reprodução?

extraído de: http://www.ogalileo.com.br/cristianismo/artigos/o-espirito-santo-e-criador-e-criativo-e-nao-copista-e-reprodutor de Yuri Steinhoff...

Conversemos um pouco sobre duas vertentes correntes hoje em dia na música cristã, principalmente a evangélica. São duas correntes que, inclusive, chegam a “trocar farpas” entre seus adeptos e simpatizantes. Mas vale ressaltar aqui o meu posicionamento crítico frente às duas e onde estou me pautando. Primeiramente não estou condicionando-as à ação ou não do Espírito Santo e à soberania divina, e me pautarei em princípios musicais e técnicos. Não “julgarei” a relação com a subjetividade e individualidade. Não obstante será uma breve análise da superficialidade musical, e não da poética. E nisso continuando pelos vieses dos textos anteriores.




Primeiramente, é fato que a música cristã de hoje não colabora, em termos musicais, para uma evolução dela própria, seja qual segmento for. De um lado temos uma musicalidade evidentemente mais padronizada e extremamente influenciada pelos estilos musicais norte-americanos e europeus, ou melhor, a música “pop”. Nada contra o pop, pelo contrário, mas nós ainda não sabemos fazê-la. Os estilos musicais não são apenas formados pelos valores musicais, como ritmos e células rítmicas, direção melódica, caminhos harmônicos. Esses elementos são, sim, extremamente importantes e fazem a diferença quando empregados corretamente, porém, eles não são isolados. Há, para cada estilo, uma historicidade, uma contextualidade que não pode ser negada e muito menos desconhecida ou ignorada. Então existem vivências que não temos, enquanto brasileiros, e que são necessárias. É o que sentimos quando ouvimos um americano, por exemplo, tocando sambas. Por melhor que seja o músico, sentimos falta de algo. Ouça, por exemplo, Chick Corea tocando 500 miles high. Mesmo com brasileiros na gig (Airto Moreira e Flora Purim) sentimos falta de algo, é fato. E o nosso pop cristão acaba por ser pobre em harmonia e melodia e descontextualizado e sem historicidade. E o que é uma religião que não olha para o contexto de seus seguidores? E os seus cancioneiros (os que fazem as canções – para mim, compositor é aquele que fez um curso de Composição e Regência, assim como médico é o que fez Medicina, por isso o curandeiro não é médico, e por aí vai...) que se esquecem ou ignoram a realidade social que os circunda? Ignoram, por muitas vezes, descaradamente o nosso próprio idioma, infeccionando nossos ouvidos com erros grotescos e forçosos de prosódia (as temidas silabadas) e pronúncias esdrúxulas e carregadas de mau gosto. Talvez achem que estou exagerando, mas reparem como insistem em dizer Raleluia ao invés de Aleluia, ou também Jêsus, e não Jesus (oxítona), Amôr (com uma batata na boca), e outras coisas mais, é só escutar. É a pasteurização musical, que destrói toda a contextualidade e a brasilidade. É uma música de tendências, que segue a moda. É isso que se quer expressar? Que você faz parte da moda? Lembrando que a moda nos remete a consumismo desenfreado e, consequentemente, a uma série de questões sociais que não nos cabem aqui discutirmos, em princípio. É o simplismo falando mais forte que a simplicidade. É uma cópia (mal feita) e não uma criação.



O Espírito Santo é Criador e Criativo, e não copista e reprodutor.



Por outro lado temos uma corrente de músicos na igreja que se acham mais sofisticados e até capazes de surpreenderem Deus porque sabem executar um acorde com décima terceira ou um dominante substituto! Pura alienação também: floreios harmônicos em detrimento da simplicidade artística, criativa e criadora. Ressalte-se que esses floreios harmônicos são apenas enxertados, e não pensados. As funções de cada nota alta e seus caminhos que geram (ou deveriam gerar) melodias não são pensados, e nem analisados e nem contextualizados. São apenas notas dentro de acordes, nada mais. Como se fosse mais difícil tocar uma tríade do que uma centopéia de notas! Não é. O mais difícil é entender o porquê de tais notas. Não são para “enfeitar”. Não são para dificultar. São notas, meramente sons, e que devem ser trabalhados em sua peculiaridade. Não pode haver um paradigma da dissonância. O gesso da prepotência. E falo apenas da dissonância não tratada, da dissonância jogada em “shapes” e padrões. Não a dissonância que naturalmente surge. Não aquela dissonância da Criação, já presente e apenas sendo escutada. A Criação é tratada, assim, com descaso e descuido. E “achar” (o achismo mesmo) que faz música superior é balela, é julgar, e esquece-se que há uma trava cheia de padrões que também engessam. Também é uma cópia mal feita. Padrão atrás de padrão.



Porém notamos que Deus, dentro da sua infinita misericórdia, usa ambas as vertentes para alcançarem corações. Então não há pior e nem melhor música. Há apenas a sinceridade em servir. Mas, e a sinceridade em dar o melhor? A sinceridade em fazer da melhor forma? A sinceridade em transcender? Em buscar?



Porque os músicos cristãos não estudam música realmente? Chegam a um nível mediano, para não dizer medíocre, e param por aí.



Até quando teremos musicas arcaicas?



Quando nos abriremos realmente para todas as possibilidades musicais que nosso Pai Criador que nos possibilita?



Infelizmente a nossa criatividade cristã apenas está calcada em padrões musicais. Encaixotamos a musicalidade oriunda de Deus em nossos padrões, e apenas nos conformamos.



O Espírito Santo é Criador e Criativo, e não copista e reprodutor.



Quando nós escutaremos música?








Silabada: erro de prosódia

Comentários

  1. Tem surpresa para você no meu blog – um selo de reconhecimento. Passa lá e pegue-o.

    Edson Carmo

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